sexta-feira, 18 de março de 2011

O luto

Estou de luto

E se me perguntares o porquê da máscara que uso, eu te direi:
Já está fedendo
O corpo do defunto

Se o defunto tivesse alma
Eu estaria inalando-o
Eu juro!

Narrando o fato.

Sou uma leitora assídua, desde que minha saúde me libere para ler, é claro, pois ela insiste em me manter acamada*. (Em anexo uma explanação sobre “acamada”)

Vamos aos fatos.

Freqüento todos os dias a biblioteca Joaquim Nabuco. Tenho uma carteirinha que me dar direito a locar dois livros por sete dias, mas geralmente entrego no mesmo dia ou poucos dias depois. Preciso fazer mais leituras para concluir uma obra poética minha, para um concurso, que por sinal fiquei sabendo a pouco, propôs as funcionárias, as que se encontravam no momento, que me emprestasse uns cinco livros que eu tinha selecionado. Isso foi no dia 17 de março de 2011 e eu devolvê-los-ia (Não sei se a conjugação está correta. Foi o Word quem disse que a minha estava errada) no dia 18 de março do mesmo ano, pela manhã, antes de eu ir ao trabalho, ou seja: Antes das 08h00min horas. Mas elas se negaram a emprestar, eu aleguei que trabalhava e não tinha tanto tempo para ler, “trabalho 8 horas, das 08h00min as 17h00min. Entrego os livros amanhã, pois são finos e num instante eu os leio. Se quiseres deixo meus documentos.” E continuei alegando, dizendo que existem exceções e tal, mas elas se mantiveram irredutíveis. Então eu confesso que fui irônica ao dizer: “Poxa, existe uma palavra no dicionário chamada exceção.” E elas: “Também existe uma chamada norma.” E ainda continuei apelando. “Posso falar com a coordenadora, talvez ela libere”. E elas: “A coordenadora está de férias e nos não iremos incomodá-la.” Depois disso, minhas forças foram se esvaindo, uma tristeza tomou contar do meu ser. Eu ainda falei mais alguma coisa, mas elas se comportaram como se ali não tivesse ninguém. Ignoraram-me. Eu ainda pensei em ficar lá lendo até as 20h00min horas. Horário em que a biblioteca fecha. Mas forças não me vestiam mais, estava nua e nem os livros eram capaz de me vestir naquele momento. Então sai caminhando com uma corda e um nó em minha garganta. E logo em cima desabei em choro e chorei até hoje e escrevendo esse texto posso sentir uma corda e um nó na minha garganta nesse instante.


As pessoas são analfabetas porque não conseguem ler a alma uma das outras.

Magali Polida de Lascada Selva, prazer.

Anexo.

Amorfo

Lendo o livro A Metamorfose, logo me veio reminiscências das minhas dores que são mais constantes do que meu próprio respirar, pois às vezes respiro com tanta dificuldade como se tivesse perdido todo o oxigênio que me mantém viva.

Por várias vezes acordei bem antes da minha hora de me organizar para seguir em direção ao meu trabalho, que por sinal é bem tranqüilo e leve, e nem requer de mim muito esforço físico tão pouco mental. E às vezes até me entristeço por isso, mas logo penso na dor que sinto e me condiciono a pensar que na verdade é um alívio todo esse modo de trabalhar.

O que me entristece mais é quando tendo eu acordado bem cedo, não consigo me levantar da cama, não por preguiça ou por sonolência, mas por não conseguir nem movimentar os músculos que me fazem abrir e mexer meus lábios e quando minha mãe pergunta: “Magali, vais ao trabalho hoje?”


Eu resmungo algo que dá para ela entender que não, pois se eu resmungar ao que ela entenda que sim, vai ficar o tempo todo me chamando, ou perguntará por que eu ainda não me levantei e como não poderei respondê-la, pois meus músculos não me respondem...Permitindo-me assim a mentir por várias vezes até me sentir melhor e dizer a verdade.


Mas o pior é não poder ligar para minhas coordenadoras e explicar a situação, dizer que estou enferma e que chagarei atrasada no emprego, e evitar com isso fisionomias interrogativas e varias perguntas antes mesmo de me darem bom dia. Mas nem força para redigir alguns números eu consigo. E chegando ao trabalho ouço inúmeras perguntas. ”O que aconteceu?” e olham para o relógio. Daí começa: “por que não ligou?” e dizem que é falta de respeito nem ao menos ligar para dar uma satisfação, mas ninguém me dá uma satisfação se é febre reumática que tenho ou fibromialgia ou ainda as duas coisas, ninguém fecha um diagnostico preciso sobre meu estado de saúde. É isso que mais me dói, essa imprecisão, essas interrogações. O pior da dor não é a dor e sim a descrença dos não doloridos.


Não sei o que realmente Kafka sentia naquela cama, em A Metamorfose, mas se não eram dores físicas, decerto eram psíquicas, e essas são de certo as piores dores. As piores dores são aquelas que atingem o coração. E ninguém consegue traduzi-lo. Nem uma tradução traduz o coração.


Relendo Franz Kafka, em A Metamorfose.













 

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