segunda-feira, 18 de julho de 2011

Papel em branco


Pessoas, estou participando de um concurso de contos e gostaria da contribuição docês, os salgados não se sintam acuados, estão liberados.


Passou a passo :

CONTOS
Papel em branco [o conto]

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Papel em branco

Eu nem me acho bonita, tenho um corpo curto, curto de cima para baixo e curto de um lado para o outro, sou pequena, é, de estatura franzina, mas tenho cheiro de papel. Isso deve ser bom, nem tanto na verdade, são poucas as pessoas que falam do meu perfume. Talvez ele seja um pouco forte e nem todo mundo está acostumado com ele, por isso alguns sentem alergia, outros ainda ficam enjoados.
Um dia eu sentei ao lado de um jovem e ele começou a espirrar, espirrou tanto que fiquei com medo que ele passasse mal ali e me afastei. Quando cheguei em casa, fiquei tão angustiada com aquilo que pensei em me isolar.  Desde então comecei a ler menos, e a cada dia lia menos, até que um dia não li nada.
Eu tinha me esvaziado e não sentia mais o cheiro da revolução, o cheiro do meu perfume e chorei.
Por que deixei de usá-lo? Perguntava-me. Pulei da cama, me vesti em minutos e quando me percebi estava no meio da rua com a carteirinha da biblioteca e correndo, corria, corria como se estivesse indo atrás do meu ar. Não via ninguém, agora, não corri mais, me sentia voando... Voava, estava leve, e o vento batia no meu pescoço e subia para meus cabelos jogando-os no meu rosto e eu ria... Ria e enchia meus pulmões... Como se eu fosse um balão eu flutuava e não teria naquele momento nem um peso que me fizesse deixar de flutuar.
Cheguei à biblioteca, fui logo percorrendo os corredores pra escolher meu perfume, minha próxima revolução e lá chegando percebi que minha carteirinha estava cheia e precisava de outra. Então, solicitei outra e enquanto ela preenchia os dados, me sentei ao lado de um amigo e fiquei contando-lhe toda minha trajetória até chegar ali. E ele: _Essa menina...
Eu ria enquanto esperava ansiosa pela nova carteirinha. E quando a peguei juntamente com os livros, perguntei imediatamente pela outra. E a bibliotecária: _Rasguei.
Entristeci.
Eu não conseguia acreditar que uma partícula da minha história tinha sido extraviada. O outro bibliotecário foi logo me dizendo:_Mas você tem essa novinha. E sorrio. Como se esse sorriso pudesse preencher todo um tempo de leitura, de memórias. E eu: _Em branco.
A memória nem sempre é presente: Às vezes é passado. Trato de registrar minha história, agora, nesse papel em branco.

 

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